Entrevista com o italo-brasileiro, Franco Morbidelli – por Járcio Baldi
No “paddock” da MotoGP, no Circuito Balaton Park, na Hungria, fui recebido nas dependências do VR46 Hospitality Center, por Franco Morbidelli, piloto da Equipe italiana. Uma pessoa que transmite uma tranquilidade e ao mesmo tempo um acolhimento bem familiar, típico de um brasileiro. Morbidelli foi o primeiro piloto da VR46 Riders Academy e o primeiro do projeto a vencer um Campeonato Mundial, na Moto2, em 2017. Após sete temporadas na MotoGP, incluindo três vitórias, seis pódios e um vice-campeonato na MotoGP em 2020, ele se juntou à Pertamina Enduro VR46 Racing Team em 2025. Com a equipe, ele já conquistou dois pódios em Grandes Prêmios, na Argentina e no Catar, e dois pódios em Sprints, no Catar e na Hungria.
Num “bate papo” bastante descontraído, tivemos vinte e cinco minutos de boa conversa. Abaixo você pode desfrutar dessa conversa com o italo-brasileiro, que já renovou seu contrato com a equipe italiana para 2026.
Franco, você fez um caminho diferente da maioria dos pilotos para chegar até a MotoGP. O caminho normal seria entrar nesse “mundo” pela Moto3( ou a antiga 125cc), Moto2 e finalmente a MotoGP. Fale um pouco para nós sobre esse seu caminho até a categoria rainha das motocicletas.
Olá pessoal do Brasil, é um grande prazer estar aqui e principalmente, falando português, porque só tenho esse tipo de oportunidade com meus familiares, e como os vejo bem pouco durante o ano, praticamente falo português apenas com minha mãe. Eu comecei com as mini motos aos 12 anos de idade, e o caminho natural de um piloto naquela época seria posteriormente chegar à 125cc da MotoGP. Quando eu cheguei nessa etapa eu não tive condições financeiras para isso, então tive que procurar uma alternativa mais barata e encontrei a ajuda do Graziano Rossi, pai do Valentino. Então segui para a categoria 600cc Super Stock no campeonato italiano.
Minha família mudou-se de Roma para a região de Misano, que é uma região onde tudo sobre moto, acontece ali. O Graziano pediu ao Vale para eu poder treinar com ele, com Marco Simoncelli, em circuito de “dirty track”, foi onde comecei a treinar com o Vale aos doze anos de idade.
Em 2024 você teve um acidente bastante forte quando treinava em Portimão, e disse que nem lembrava de coisas bastante simples, como de parentes próximos. Como foi essa superação?
Foi uma situação muito difícil, creio que a situação mais complicada da minha carreira. Foi uma situação muito particular, porque quando o cérebro não consegue ligar os fatos, é muito difícil. Existiam coisas que eu sabia mas, não conseguia lembrar, isso foi meio desesperador. Do acidente em si eu não lembro de nada, e as coisas por que passei eu deixei de lado e não tenho mais receio disso.
Na prova da Alemanha durante a Sprint race você teve um acidente bastante forte, que chegou a abrir seu macacão. Veio na sua memória alguma lembrança de Portimao?
Não, esse tipo de coisa que aconteceu em Sachsenring, acontecem normalmente para quem corre de moto. Se você quer chegar na frente na MotoGP, pode cometer alguns erros. Errei porque eu estava em segundo e quis me superar, mas acontece isso mesmo quando você tenta se superar, acaba se arriscando mais
Sua moto esse ano, teoricamente, é a mesma do ano passado e você teve um ótimo inicio de temporada, mas depois caiu de produção. Existe uma possível explicação para essa queda de rendimento?
Hoje em dia a categoria MotoGP está num nível muito elevado de competitividade. Se você está na frente num final de semana, não é certeza que na etapa seguinte você estará lá também. Para ficar entre as sete primeiras colocações, você deve ter uma relação com sua moto e sua equipe bastante afinada. A interação entre piloto e equipe deve ter um nível bastante elevado, você deve concentrar-se apenas na melhor pilotagem, e confiar no que sua equipe fez. E ainda com a implementação das “Sprint race” alcançar esse nível de interação entre piloto, moto e equipe ficou ainda mais difícil, já que temos menos tempo de treinos.
Você tem algum circuito onde o traçado lhe agrada mais do que outros, e também se existe algum onde a atmosfera e ligação com o publico é mais apaixonante?
Na verdade eu gosto de todos os traçados dos circuitos do campeonato. Cada circuito tem a sua particularidade e esse aspecto me faz gostar de todos eles. O meu circuito favorito é o circuito que está próximo à minha casa: Misano. Como ele está bem próximo de casa, esse ambiente ali, faz com que seja meu favorito. A torcida italiana para os pilotos italianos de uma forma geral é muito forte ali, te empurra, te dá bastante força naqueles momentos sobre a moto é uma energia muito gostosa. Eu gosto mais de Misano do que de Mugello (ambos na Itália), porque esse segundo está mais longe de casa.
Os torcedores geralmente acham que o final de semana começa na sexta e que o piloto já tem que fazer um ótimo tempo desde a sexta-feira. Como é o seu ritual durante um final de semana de corrida?
Geralmente, aqui na Europa, saio de casa na quarta-feira , chegando ao circuito à tarde ou à noite. Na quinta-feira é o dia que você tem que se conectar com o mundo de fora das pistas, com os fãs, dar entrevistas, ou seja, falar com as pessoas que não estarão no box. Isso é importante para. Mostar melhor o trabalho que você esta fazendo com sua equipe. Geralmente esse contato acontece na parte da tarde, e na parte da manhã você se reune com a equipe para fazer uma programação de como será o final de semana, do que você pretende fazer, os ajustes que seriam interessantes realizarmos. Conversar com o chefe dos mecânicos, com o suporte da Michelin, com o suporte da Ducati, enfim, uma projeção de como será o final de semana.
O contato com o público é muito lindo, na quinta-feira o tempo destinado a isso é metade do dia, já nos outros dias, isso é no máximo uma hora. Quando começa a sexta-feira, com os treinos livres, é algo bastante forte para o piloto e para aqueles que estão trabalhando ali no box. Muitas coisas acontecem durante os treinos e você tem que estar bem concentrado e conectado para resolver, e de uma forma bastante rápida. E após as sessões de treinos temos que atender aos fãs e aos jornalistas também, que querem saber detalhes do que aconteceu durante as sessões. Isso é muito importante também porque afinal, tudo nesse esporte é um show para os torcedores. Encontrar um equilíbrio para toda essa programação durante um final de semana de corridas é realmente bastante difícil.
No próximo ano teremos o GP no Brasil, o que você tem para falar aos fãs brasileiros que estão aguardando há mais de vinte anos um GP em nosso país.
Eu acho que em 2026 vai ser muito lindo poder correr no Brasil. Para mim correr no Brasil é um sonho. Minha mãe é brasileira, de Recife, e metade da minha família está no Brasil. Eu tenho um laço bem forte com eles, e muito do meu jeito de ser é brasileiro, sou italiano mas tenho uma grande paixão pelo Brasil. Eu estou muito feliz esse ano, por ouvir duas vezes o hino do Brasil aqui no Mundial, pelas duas vitórias do Diogo Moreira.
Eu estive em Goiania esse ano, encontrei um grande número de fãs brasileiros, e que gostam do motociclismo, do Diogo e de mim também e isso me fez ter muito mais vontade de estar lá e fazer uma boa corrida diante de todos aqueles fãs. Ficarei muito feliz se puder colocar as cores do Brasil no lugar mais alto do pódio.
Legenda: Franco Morbidelli e Járcio Baldi